quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Um dualismo de substância

No artigo "The Immaterial Aspects of the Thought", James Ross argumenta que alguns aspectos do pensamento são imateriais. Ele baseia seu argumento na ideia de que alguns pensamentos são determinados entre funções incompatíveis, de uma forma que nenhum processo físico, série de processos ou função fisicamente determinada entre processos pode ser. O resultado é que tal pensamento nunca é idêntico a nenhum processo ou função física.

Para ilustrar seu argumento, Ross usa o exemplo da adição. Ele argumenta que, quando adicionamos dois números, não estamos simplesmente seguindo uma série de regras físicas ou computacionais. Em vez disso, estamos aplicando um conceito abstrato de adição, que é independente de qualquer processo físico específico.

Ross também argumenta que nossos pensamentos são muitas vezes intencionais, ou seja, eles são dirigidos para um objeto específico. Ele sustenta que essa intencionalidade não pode ser explicada por processos físicos, pois os processos físicos não são intencionais por natureza.

Além do exemplo da adição, Ross também utiliza outros exemplos no artigo para ilustrar seu argumento. Um desses exemplos é o da compreensão de uma metáfora. Ele argumenta que, quando compreendemos uma metáfora, não estamos simplesmente seguindo uma série de regras físicas ou computacionais. Em vez disso, estamos fazendo uma conexão entre dois conceitos que são, em princípio, incompatíveis.

Outro exemplo utilizado por Ross é o da criatividade. Ele argumenta que, quando somos criativos, não estamos simplesmente seguindo um modelo físico ou computacional. Em vez disso, estamos produzindo algo novo e original.

Ross também argumenta que nossos pensamentos são muitas vezes subjetivos, ou seja, eles são experimentados de uma forma única por cada indivíduo. Ele sustenta que essa subjetividade não pode ser explicada por processos físicos, pois os processos físicos são objetivos por natureza.

Por fim, Ross argumenta que nossos pensamentos são conscientes, ou seja, somos conscientes de que estamos pensando. Ele sustenta que essa consciência não pode ser explicada por processos físicos, pois os processos físicos não são conscientes por natureza.



segunda-feira, 5 de junho de 2023

Sentido

 De acordo com um dos magníficos pensamentos de Pascal, os problemas humanos surgem da incapacidade do homem permanecer em repouso, sentado por algum tempo. Isto parece a prima facie um pensamento um tanto estranho de imaginar e até mesmo superficial. Mas Pascal prossegue argumentando que não é o mero repouso inanimado que resolve o caos humano. Muito pelo contrário. Ele indica que o próprio repouso é insuportável pelo tédio que gera. O tédio no repouso é insuportável pelo desespero que gera quando uma reflexão inata é evidenciada em tal repouso: nossa condição leviana, ignorante, miserável, e mortal. "Ele sente então todo o seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio. Imediatamente nascerão do fundo de sua alma o tédio, o negrume, a tristeza, a mágoa, o despeito, o desespero." O desespero insuportável leva à diversão, que "nos entretém e nos faz viver insensíveis" em relação à essas condições humanas. Sem a diversão, o homem buscaria meios mais sólidos de escapar da morte e sair da ignorância. Mas a ausência de diversão gera tristeza, e para resolver esse caos do desespero humano, a escolha geralmente é parar de pensar nisso. (Parece, ao menos para mim, que a maior inspiração em Dostoiévski – principalmente nos personagens príncipe Mishkin e Aliócha – é seu contato com o realismo de Pascal, mas não trataremos disto agora.)


A resposta de Pascal segue sua jornada até Cristo que, na minha humilde opinião, é com muito peso a única opção razoável para tomar como "aposta". "Apostar" em Deus e, mais especificamente, no Deus cristão – aqui Pascal segue uma linha de teologia natural que justifica o porquê do Deus cristão e não outro Deus que não cabe tratarmos disto agora, mas talvez em uma futura postagem –, é a única saída que satisfaz a necessidade de objetividade de um sentido para todo esse caos e desespero. Objetividade esta que parece ausente nos argumentos de Viktor Frankl, o famoso psiquiatra da Logoterapia, e Jordan Peterson, o famoso psicólogo contemporâneo.


Não parece muito vantajoso ou diferente de uma ilusão (tal como a "ilusão de indulto" de Viktor Frankl) o mero sentido subjetivo. Imagine, por exemplo, que alguém sente uma obrigação moral em ser responsável por salvar vidas em um hospital. (Por um momento acreditei que não seria preciso esclarecer que não estou desmerecendo tal juízo moral, mas acidentes acontecem... e é melhor que fique evidente que não tenho esse nível de desprezo por pessoas responsáveis!) O que um médico realmente faz? Pode, acaso, salvar alguém da morte? Ou não seria mais razoável reconhecer que o trabalho da medicina é – de uma forma um tanto reducionista, eu reconheço – "adiar o inevitável"? Aqui alguns idólatras da ciência aparecem de seus buracos para argumentar em favor de uma espécie de busca científica pela imortalidade do homem. Não pretendo refutar nem rejeitar esse tipo de esforço, mas simplesmente expor, caso necessário, o fatídico evento futuro (e ainda embasado em cosmologia contemporânea fresquinha) de um universo caótico e impossibilitador de vida. Mas peço que para que o raciocínio prossiga, continuemos a pensar sobre nossa morte como inevitável, seja agora, seja daqui a alguns milhares ou milhões de anos. O que o propósito e/ou responsabilidade do doutor vai resolver? Por que alguém gostaria de multiplicar em sua memória, a multiplicação de males gratuitos deste mundo? Não é, por acaso, mais razoável reconhecer o terrível (se verdadeiro) engano do sentido subjetivo? 


Não tenho dúvidas de que a responsabilidade social é algo belo e que devemos ter coragem de assumir estas carências. Mas diminuir o sofrimento não é igual a felicidade, senão uma que é passageira, ilusória. A verdadeira percepção da realidade em seu nível mais cru, foi primeiramente contemplada pelo escritor de Eclesiastes (muito provavelmente Salomão.) Ele percebeu de uma forma um tanto tardia, que nada do que se passa "debaixo do Sol" é novo, e que quase nenhuma vantagem se extrai dos esforços que os homens se afadigam. A verdadeira felicidade é participar da divindade. Pois isto é muito mais do que aqui e agora. E mais uma vez Pascal: "a única boa esperança desta vida é a esperança em uma próxima vida." Ou como William Lane Craig escreve: "Se Deus não existe, você não passa de um aborto da natureza jogado em um universo sem sentido para viver uma vida sem propósito."

sábado, 3 de junho de 2023

Os três estágios da vida por Søren Kierkegaard

– O estágio estético: uma vida no nível sensual em busca de prazer e em torno de si mesmo. O paradoxo do nível estético é que no final ele leva a infelicidade, ainda que os prazeres da alma sejam constantemente satisfeitos. Tal nível não pressupõe uma ignorância intelectual ou cultural, mas que tudo se dá por puro egocentrismo. A pessoa egocêntrica cai em desespero por ausência de significado em seu hedonismo.


– O estágio ético: tendo como ponto de partida o estágio anterior e sua insignificância existencial, o desespero agora se torna o salto entre o nível estético e ético. Aqui surgem motivações para a aderência de valores morais e a tentativa de viver neles de forma objetiva. O homem agora é moral, de um ponto de vista teórico; mas a impossibilidade prática de se viver verdadeiramente neste estágio sem qualquer deslize também leva a culpa e mais tarde, causa desespero e infelicidade.


– O estágio religioso: é neste estágio da existência humana que se encontra perdão de pecados e relacionamento com Deus. O salto do estágio ético para o estágio religioso é agora motivado pela crença em um Deus que perdoa iniquidades pois somente um Deus Criador pode nos dizer objetivamente o que é moral e nos perdoar quando somos incapazes de agirmos moralmente. É neste estágio que está a realização verdadeira humana.