segunda-feira, 15 de julho de 2024

Tesouro sem valor?

Suponha que você está caminhando por algum terreno qualquer até o momento que você acha algo que parece ser um tesouro ali escondido. Para sua boa sorte, o terreno está à venda na Olx e você crê que possui uma quantidade de bugigangas equivalente ao preço do terreno – que possui um preço justo, diferentemente dos quais temos testemunhado nos dias atuais. Sua inferência mais provável certamente seria "vou vender minhas bugigangas e talvez sacar meu FGTS para comprar o terreno sem parcelas". E é isso o que você faz. Embora isso possa parecer mais um caso Gettier, meu foco aqui é o tesouro em si, sua relevância para você adquirir o terreno no qual ele subjaz.

Pronto, finalmente o terreno e, consequentemente, o tesouro, são seus. O que você faz agora? Você começa a escavar (se é que o tesouro está coberto por terra), a investigar qual a utilidade de toda essa riqueza. Você acha aparelhos ultra tecnológicos que são capazes de fazer um cego ver. Outros que são capazes de fazer um paralítico andar. Ainda outro que multiplica pães e peixes. Para sua surpresa, há uma máquina com engenharia perfeita o suficiente para transformar um coração de pedra em um coração de carne. Dá ainda, entre todos os outros aparatos que lhe é cognoscível, algo mais claro e real do que a aquilo que você jamais experimentou; algo capaz de fazer você perceber quem você realmente era antes de achar o tesouro. Para sua surpresa, você estava morto pois descobre que o próprio tesouro é idêntico em essência a Vida. Logo, você adquire a crença de que quem não possui esse tesouro, está realmente morto e isso na verdade implica uma morte espiritual como um zumbi que está em movimento mas não possui qualquer motivação aprazível, que realize um bem devido.

Agora imagine que em vez de utilizar todos esses aparelhos ultra tecnológicos você, ao "comprar" o terreno, o cerca de muros altíssimos ou enterra o tesouro talvez por ter visto apenas a "ponta do iceberg", ou ainda por não ter ficado claro que a proximidade do tesouro lhe garante a Vida, pois como foi escrito acima, o tesouro é a própria Vida. Não seria desprezível alguém que, tendo tamanho tesouro como sua propriedade, sai para brincar com pedras inanimadas, galhos, ou ainda folhas secas que subjazem sobre o mesmo terreno?

Ora, é tolice comprar um Meade LX850 unicamente para usar a embalagem para guardar tralhas; ou ainda comprar uma esteira para usar de cabide. Dá mesmo forma é uma tolice notável "achar" um tesouro, e não o utilizar em favor próprio e/ou favor de outros.

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