Estava eu a ler a terceira parte de "O Senhor dos Anéis" que se chama "O Retorno do Rei" quando, de repente, ao me deparar com uma frase de Gandalf, me veio à cabeça a coragem de São Tomé descrita no Evangelho de João. Gandalf está andando e conversando com o hobbit Pippin, que acabara de oferecer ao Regente a própria vida para lutar por um bem maior. Na conversa, Gandalf se questiona o que passara na cabeça ou coração do pequeno Pippin para ter jurado sua fidelidade "até que o mundo acabe", quando então Gandalf argumenta que não impediu Pippin de fazer tal juramento porque na visão dele as "ações generosas não devem ser reprimidas por conselhos frios". Talvez seja o caso de que Gandalf cogitasse a possibilidade de Pippin falhar, mas ainda assim ele viu que o ato nobre do qual Pippin se comprometera fosse algo para se inspirar ao invés de reprimir, procurando desculpas frias para fugir das responsabilidades.
Quando Jesus diz aos discípulos que tornariam para a Judéia, seus discípulos logo o repreenderam argumentando que a probabilidade de Jesus ser apedrejado por lá, era muito alta, visto que tal tentativa de apedrejamento já havia ocorrido havia pouco tempo. Seus discípulos encontraram uma resposta fria, argumentando que o ato de Jesus de ressuscitar Lázaro não valia a sua morte. Seus discípulos implicitamente argumentaram isso. À exceção de Tomé. Ele é o primeiro a bradar "vamos também nós para morrermos com ele". Se eu tivesse que opinar sobre o que aconteceu em seguida, eu diria que algum dos discípulos deu aquela leve cotovelada em Tomé dizendo: "Shut up, Thomas!"
Mas Tomé não é lembrado por sua coragem e seu ato nobre. Ele é lembrado mais tarde quando o Jesus ressurreto aparece e Tomé - não possuindo razões cognitivas para privilegiar o testemunho epistêmico - argumenta que daria privilégio somente a uma fonte elementar de obtenção de conhecimento. Ele só acreditaria na ressurreição tocando as feridas do Jesus outrora morto. A incredulidade de São Tomé não me parece ser tão diferente da incredulidade que temos em relação a outras fontes de conhecimento, sejam primárias ou secundárias, quando estamos falando do conhecimento de Deus. Mas isso eu não quero discutir aqui.
Será que todos vão lembrar do pequeno Pippin apenas por sua curiosidade em relação a tocar e ver Palantir, ou por sua nobre coragem de oferecer sua fidelidade? Ou, ainda: devemos argumentar friamente que não é razoável oferecer o nosso melhor pois as pessoas apenas lembrarão de quando falhamos?
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